Sáude
Por: Deíldes Prado 20/12/2024 6 minutos de leitura

Telemedicina no Brasil: entenda os usos possíveis no país

A telemedicina chegou a ser autorizada no Brasil, mas sua regulação foi revogada e o tema voltou a ser objeto de debate, ainda que essa seja uma ferramenta promissora.
O fato é que nunca é fácil conciliar o ímpeto de adotar rapidamente uma iniciativa com tanto potencial de gerar benefícios, com a prudência de uma análise mais elaborada, para evitar mudanças baseadas em conclusões precipitadas.
Se isso já é valido em inúmeras situações da vida, o que dizer do caso da medicina? Que tanto depende de comprovações, estudos e critérios? Siga com a leitura e reflita conosco sobre como podemos usar esse recurso para melhorar o serviço e diminuir custos.

O que é telemedicina e como pode ser usada no Brasil?

Basicamente, a telemedicina é o exercício remoto da profissão médica, viabilizado por meio de aplicativos, plataformas e sistemas específicos para esse fim. No Brasil, ela tem sido exercida de modo informal, às vezes por aplicativos de mensagens, por exemplo, e temos tido reviravoltas na regulamentação de seu uso, como já adiantamos.
A Resolução CFM nº 2.227, que autorizou a aplicação da telemedicina, foi publicada em 13/12/2018, mas foi posteriormente revogada e atualmente está em estudo. A alegação é a de que é preciso um maior debate sobre o tema, o que responde às solicitações de inúmeras manifestações de médicos brasileiros e entidades representativas da classe.
O Conselho Federal de Medicina (CFM) se posicionou sobre a telemedicina de forma específica pela primeira vez por meio da resolução 1.643/2002, usando como base a Declaração de Tel Aviv de 1999, que considerava a autonomia do médico na decisão de utilizar telemedicina e na possibilidade de assistência sem contato direto com o paciente.

Conheça os desafios a serem superados no setor

Segurança de dados

Garantir a proteção de dados é um desafio em si, mas também é importante porque pacientes e profissionais de saúde precisam se sentir totalmente confiantes sobre a confidencialidade dos sistemas de saúde digitais.
Esse é um aspecto especialmente desafiador, já que uma das maiores vantagens das novas tecnologias, incluída a telemedicina e outras tendências de inovação, é a possibilidade de usar dados mais abrangentes, precisos e reveladores sobre a saúde e qualidade de vida das pessoas.
Pensar sobre como usá-los em toda a sua potencialidade, mas sem que essa aplicação seja invasiva à privacidade, envolve ética, seu grau de utilidade e várias questões tecnológicas.

Melhora da estrutura

Apesar de várias experiências bem-sucedidas, ainda há muito para ser explorado, aprimorado e incorporado ao uso cotidiano. Sensores de monitoramento remoto, por exemplo, já são operacionais, mas a viabilização de uso em escala ainda depende de estruturação que garanta segurança, um bom fluxo de dados integrados e acesso facilitado a eles.

Foco na saúde do paciente

Apesar de todos os benefícios que essa tecnologia proporciona, ela exerce fascínio em nós e pode dar a falsa ideia de que se trata de uma solução em si mesma. Esse é um ponto que ajuda a criar resistência na classe médica, que sente necessidade do fortalecimento de programas de humanização na saúde.
Por isso, a adoção da telemedicina depende de um olhar atento e da busca de soluções que permitam garantir um atendimento humano, acolhedor e eficiente. Nesse contexto, a tecnologia é apenas uma ferramenta e, por isso, não pode disputar importância com os profissionais da área, especialmente os médicos.

Aceitação das pessoas

Sendo assim, a sustentabilidade de um sistema de telemedicina depende de mais do que estrutura apropriada e plataformas comuns. Ela precisa conquistar as pessoas — inclusive os pacientes —, que precisam confiar na sua segurança e eficiência.
As soluções devem ser incorporadas nos processos de atendimento existentes e os aspectos culturais e o treinamento são vitais para uma implantação bem-sucedida.

Healthtech: realidade no Brasil e no exterior

Os avanços técnicos, a maior expectativa de vida da população, as regulamentações dos governos, que necessitam avançar no campo da tecnologia médica como um todo, e os subsídios para impulsionar a adoção de registros médicos eletrônicos são fatores que impulsionam os mercados de healthtech.
O princípio básico é a entrega de cuidados de saúde e de aplicativos centrados no paciente, uma diretriz que se manifesta ao longo da cadeia de cuidado da saúde, desde o atendimento ambulatorial e hospitalar até o monitoramento de home care.
Em relação à telemedicina, ela ganhou impulso somente a partir de 1993 com a criação da ATA (American Telemedicine Association), localizada em Washington. Atualmente, a comunicação sem fio, o processamento de grande volume de dados e a adoção de sensores de monitoramento permitem, por exemplo, pesquisas sobre a utilização de transmissão de imagem e vídeo com o objetivo de promover assistência remota.
Um bom exemplo é o estudo que permitiu a transmissão de um eletrocardiograma em tempo real do Monte Everest durante a subida, já em 2009. Até mesmo programas de combate ao abuso infantil usam a telemedicina para facilitar a visitação e, desse modo, fazer diagnósticos que identifiquem e ajudem a coibir tal prática, como é o caso da pesquisa realizada por Jillian Inouye, da Universidade do Havaí em Mānoa.
Mas sua aplicação mais comum envolve casos mais simples e práticos, como nos que o médico sente necessidade de uma segunda opinião sobre um caso e consulta um colega, ou nos quais ocorre interação entre a equipe de atendimento de urgência em uma ambulância e a do hospital.
Em procedimentos de triagem e para orientações simples aos pacientes, a opção também se mostra promissora, uma vez que a telemedicina permite maior agilidade e acerto no encaminhamento.
Em resumo, podemos dizer que as áreas da telemedicina mais desenvolvidas são a telerradiologia, seguida pela telepatologia, a teledermatologia e a telepsiquiatria. Os países mais adiantados nas áreas avaliadas em telemedicina são os do Sudeste Asiático e os europeus, seguidos pelos Estados Unidos. O pior resultado foi apresentado pelo continente africano.
Por fim, parece que a telemedicina depende de um bom alinhamento entre a aplicação prática e o seu uso ético e racionalizado. Trata-se de um instrumento que precisamos usar com cuidado, ao mesmo tempo em que não nos deixamos limitar por receio ao novo.
Talvez seja esse desafio que torna o tema tão interessante. Compartilhe esta postagem e leve a informação a todos os seus contatos!