A humanização hospitalar é um processo cada vez mais inserido no contexto da saúde. No entanto, é preciso entender os principais fundamentos, treinar os colaboradores e verificar constantemente a atuação da equipe clínica.
A humanização tem como base um dos princípios da medicina personalizada e avaliação integral do paciente, considerando aspectos clínicos, medicamentosos, sociais, psicológicos, econômicos, entre outros que interferem no processo de adoecimento, controle e cura de uma doença.
Além disso, trata-se de um tratamento diferenciado, analisando, além dos fatores descritos anteriormente, o chamado letramento em saúde, que está relacionado à capacidade de interpretação das orientações clínicas e, consequentemente, à adesão do paciente às terapias propostas.
O assunto é complexo e demanda constantes atualizações de conhecimentos por parte de gestores e profissionais clínicos. Por isso, se quiser saber mais sobre humanização no atendimento hospitalar, fique por aqui e entenda mais sobre o tema!
O que é humanização hospitalar?
Humanizar, analisando o conceito linear da palavra, é tratar as pessoas como seres humanos. Parece óbvio, não é mesmo? Mas tratar pessoas como seres humanos dentro do ambiente hospitalar é algo desafiador, porque o foco sempre está direcionado à condição clínica específica.
Muitos profissionais de saúde, devido à ampla experiência de atuação, também conseguem avaliar o estado do paciente sob uma situação de se colocar com o mesmo problema e entender o que se passa com o indivíduo que sofre.
Então, transpassar o propósito clínico de cura da doença nos mais diferentes contextos e custando o que for ainda é um desafio para muitos profissionais que não conseguem enxergar a concepção biopsicossocial do indivíduo.
Isso significa desmistificar padrões ainda enraizados desse princípio restrito e expandir os horizontes para além da doença diagnosticada ou da indicação de um procedimento ambulatorial ou cirúrgico no paciente.
O olhar para o paciente deve ser ampliado, considerando, além das causas para o aparecimento da doença, os demais determinantes em saúde, como fatores socioeconômicos, religiosos, de raça/etnia e psicológicos.
Portanto, umas da premissas da humanização hospitalar é considerar as causas e consequências de um problema a partir de acolhimento adequado do paciente e respeitando as escolhas dele após uma orientação científica e objetiva sobre o contexto clínico em que ele está inserido.
Nesse sentido, a escuta ativa é fundamental e se reflete em comportamentos não verbais mais amigáveis, descontruindo uma relação terapêutica dividida por uma mesa de consultório ou uma maca hospitalar.
Essa ampliação do foco requer também:
- modificação nas condutas dos profissionais de saúde;
- alteração na rotina de atendimento;
- avaliação da efetividade da implantação;
- análise de custos a partir do alcance positivo do desfechos em saúde.
Também deve ser livre de preconceitos, julgamentos morais e éticos e aceitação de que o paciente é o principal responsável pelas escolhas, e cabe aos profissionais orientá-lo de maneira humanizada para direcioná-lo às suas expectativas.
Dessa forma, é desafiador para a equipe multiprofissional em saúde ter de lidar com decisões dos pacientes (que nem sempre são as mais eficazes), inclusive algumas podendo contribuir para complicações do estado clínico. Porém, é preciso respeitar as escolhas, desde que cientificamente embasadas.
Quais os benefícios da humanização hospitalar?
A princípio, muitos profissionais se sentem desconfortáveis nessa prática, enquanto alguns já conseguem implantá-la devido aos conhecimentos adquiridos na faculdade ou em cursos de atualização.
Contudo, quando a humanização hospitalar está plenamente implantada, os benefícios são notórios para a equipe e para o paciente. Veja quais são eles.
Aumentar a efetividade do tratamento
Um tratamento é efetivo quando corresponde às mudanças no estado clínico do paciente de forma positiva. Nesse contexto, o uso de medicamentos, realização de cirurgias ou procedimentos ambulatoriais devem ser considerados na perspectiva do antes e depois dessas intervenções.
Quando ocorre a humanização durante o atendimento hospitalar, o paciente expõe suas angústias, medos, frustrações, expectativas que se referem a uma experiência subjetiva em relação à terapia.
Nesse sentido, é importante a atuação de equipe clínica para traçar essas variáveis e conscientizar sobre os benefícios e riscos de um tratamento, considerando a condição do indivíduo.
Exemplos práticos acontecem quando o paciente resolve não tomar um medicamento porque relatos de outros usuários foram negativos. Com um atuação humanizada, isso pode ser revertido.
Assim, entendendo as questões por trás de uma intervenção clínica, é possível ressignificar o problema e tratá-lo da melhor forma para ambos os lados O resultado clínico é aumento da adesão, otimização da efetividade e garantia de boas metas clínicas.
Além disso, quando se obtêm os resultados com a intervenção aceita, isso pode gerar redução nos custos de internação, prevenção de complicações esperadas e diminuição dos insumos hospitalares.
Satisfazer os pacientes
Satisfazer os pacientes pode ser mais fácil do que se imagina, principalmente porque muitos desejos são factíveis de serem incorporados e trarão um benefício significativo para todos os envolvidos.
Nesse sentido, satisfazer o paciente é:
- direcionar a atenção para seu contexto;
- reduzir a especificidade do problema;
- trazer conforto com palavras e ações
- modificar as formas de abordagem
- trazer melhorias para que seu comportamento incentive a recuperação clínica.
Um dos principais desejos dos pacientes é a mudança da dieta prescrita, que, realizada conforme recomendações de nutricionistas de acordo como caso clínico, pode ser adaptada para melhoria do humor.
Outros pontos de desejo são permissões para maior tempo de visitação, possibilidade de caminhar pelo lado externo do hospitalar, trazer o bicho de estimação, contatar com parentes distantes ainda que seja de forma virtual etc.
Tudo isso adaptado ao contexto clínico, a infraestrutura do hospitalar e mediante um acordo fortalecido com o paciente, considerando também os conhecimentos científicos e práticos, tornará a experiência do paciente durante a internação hospitalar menos traumática, podendo inclusive antecipar a alta médica.
Motivar a equipe do hospital
Uma das formas de motivar a equipe do hospital, além das melhores condições de trabalho, remuneração e benefícios, é ver a evolução clínica do paciente a partir das intervenções realizadas com a equipe multidisciplinar.
Pacientes que estão com diagnóstico reservado, pouca expectativa de melhoria, emocionalmente abalados ou frustrados com o piora no estado clínico podem alterar completamente seu estado de saúde por meio de uma conduta objetiva e eficaz.
Desse modo, os profissionais do cuidado terão mais motivação para continuar lidando com todas as variáveis que impactam a recuperação clínica ou a complicação do doente, modificando as ações conforme o nível de experiência adquirido.
Visualizar essas pequenas conquistas incentiva a equipe a continuar prestando atendimento humano e personalizado ao paciente, sempre pautando também pela relação risco-benefício das intervenções adotadas.
Outra questão que motiva a equipe dentro da humanização é a parceria para trabalhar em conjunto e como isso traz mais benefícios do que quando se implantam ações de forma isolada.
Os profissionais de saúde, trabalhando de forma interdisciplinar, captarão todos os parâmetros que influenciam o comportamento do adoecimento ou a mudança da perspectiva do paciente.
Sendo assim, trarão uma abordagem mais complexa e adequada as necessidades biopsicossociais dos doentes, proporcionando mais resolutividade e eficiência no trato ao paciente.
Como humanizar o atendimento?
Sabendo dos benefícios clínicos e econômicos gerados pela prática de humanização, o próximo passo é idealizar como isso funcionará de forma equilibrada e sem alterar significativamente as rotinas já existentes.
Um das ferramentas gerenciais utilizadas é começar por setores assistenciais menores ou estabelecer rotinas de encaminhamento dos pacientes mais complexos para uma abordagem pela equipe de humanização.
Por isso, selecionamos alguns pontos importantes para desenvolver esse processo.
Capacitar a equipe
A capacitação é, sem dúvida, o primeiro passo após terem sido delineadas as ações, os setores e levantados os recursos para sua implantação. Sendo assim, é preciso treinar todos os envolvidos na prática da humanização do atendimento hospitalar.
Para tanto, devem ser estabelecidos os tópicos do conteúdo, o tempo de duração de cada evento, as atividades práticas, quantos colaboradores do mesmo setor realização o curso simultaneamente e quais rotinas serão provisoriamente alteradas.
Devem ser descritas também as ações que serão implantadas no hospital, as adaptações necessárias para efetivação, além dos indicadores que analisarão a efetividade das condutas exercidas.
Oferecer uma comunicação transparente com os beneficiários
A comunicação é um dos pontos fundamentais para a eficácia da prática de humanização. Por isso, ela precisa ser clara, transparente, mas, principalmente, deve estar ao alcance da intepretação do paciente.
Dito isso, outro ponto que se relaciona à comunicação é o letramento em saúde, que analisa o nível de instrução do indivíduo para assimilar uma informação e aderir à terapia proposta pela equipe clínica.
O nível de letramento em saúde não está relacionado à escolaridade, mas sim à percepção do paciente sobre o contexto. A partir dessa avaliação subjetiva, a equipe adaptará a linguagem de sua comunicação.
Isso significa que a mensagem a ser repassada deve ser de fácil compreensão, relatando a complexidade do caso, as alternativas terapêuticas possíveis e a forma de lidar com a situação junto aos familiares.
Permitir o acompanhamento dos familiares
Existem situações em que o acompanhamento de familiares é obrigatório por lei, quando na internação de idosos, na sala de parto ou na assistência a crianças menores de 12 anos ou de indivíduos com deficiência intelectual.
Porém, permitir além das obrigações legais é muito importante para os pacientes, que se sentirão mais acolhidos tendo um familiar por perto, o que pode modificar completamente seu estado de espírito.
Sendo assim, é preciso pensar em alternativas viáveis que permitam o acompanhamento de familiares dentro das unidades de internação, desde que não atrapalhe o fluxo das rotinas existentes.
Dependendo da situação, é possível reestruturar uma área física em desuso ou adaptar pequenos espaços para otimizar essa atividades, desde que sejam assegurados pela equipe de engenharia clínica.
Como promover um atendimento humanizado na telemedicina?
Considerando que o atendimento humanizado ainda é uma realidade pouco implantada no ambiente hospitalar, mas bastante promissora, o que dizer da inserção dessa prática aliada à telemedicina? Esse é um assunto tão inovador e ainda em fase de aperfeiçoamento.
Sabe-se que a telemedicina é um processo que visa encurtar distâncias com o uso dos recursos tecnológicos que asseguram rapidez no diagnóstico, discussão de casos mais complexos e agilidade no atendimento. Até mesmo em UTIs a prática já é utilizada.
Como pontos negativos para a implantação da humanização, constata-se a falta de interação presencial, que pode ser superada por uma conversa acolhedora, objetiva e que atenda às expectativas do paciente.
Sendo assim, para inserir a humanização no teleatendimento é imprescindível que todos os envolvidos se conectem por meio das câmeras ligadas e que o paciente descreva suas percepções.
Ainda que não esteja presencialmente com o paciente, é possível identificar sua expressão de preocupação, medo, angústia e sofrimento e tratar essas questões de forma leve e objetiva.
Às vezes, o contato presencial não era a preferência do paciente; nesses casos, a tendência é de maior aceitação. Para aqueles que gostam de aproximação, apertos de mão e abraços, é possível intercalar a modalidade online com a presencial.
Outros indivíduos se beneficiarão da telemedicina se constatarem que o especialista clínico de que tanto o indivíduo necessita está disponibilizando teleconsultas, o que seria gratificante para o paciente.
Dessa forma, promover o atendimento humanizado — ainda que de forma virtual — é possível desde que alguns requisitos sejam incorporados, trazendo mais tranquilidade para aqueles que ainda não optaram por essa modalidade.
Consultas de acompanhamento ambulatorial de doenças crônicas serão uma constante para o teleatendimento, bem como aquelas destinadas a orientações menos complexas ou ao encaminhamento hospitalar.
Todas as variáveis devem ser levantadas, principalmente após a alta hospitalar, que demanda outros tipos de cuidados que podem ser repassados por teleatendimento. Nesse sentido, é preciso analisar as condições clínicas, socioeconômicas, nível de letramento e outras questões específicas antes de ofertar o teleatendimento ao paciente.
A humanização no atendimento hospitalar é uma variável importante para garantir boa recuperação dos paciente, antecipar altas clínicas e trazer acolhimento personalizado e objetivo a quem necessita. As demandas são diversas, por isso a equipe precisa conhecer os fundamentos dessa prática e se manter em constante atualização a fim de buscar resultados clínicos e financeiros favoráveis.
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