Os vírus que causam pandemias são organismos que sempre travaram batalhas com a biologia humana. Um exemplo disso, foram as pandemias como Gripe Espanhola e Gripe Suína. Ambas, se comparadas ao coronavírus, possuem semelhanças em sua forma de transmissão e contágio, entretanto, deve-se considerar pontos que os diferenciam, como a integração mundial proporcionada pelas tecnologias de comunicação e transporte de cada época.
Ney Paranaguá, Dr. Em Ciência da Computação e sócio da Maida.health, explica esses aspectos. “Durante outras pandemias, o mundo não era tão integrado quanto é hoje, então ela se disseminava em um ritmo menor, mas quando ela chegava nos lugares, era arrasadora, porque tinha menos tecnologia para atuar no combate. Nos dias de hoje, eu tenho muito mais tecnologia de transporte e de comunicação, o mundo é mais integrado e dinâmico”, explica.
A tecnologia proporcionou ao homo sapiens uma nova forma de viver, mas também conferiu aos vírus artifícios como a velocidade. “Por um lado a tecnologia viabiliza que o vírus se dissemine com uma rapidez maior, por outro lado, a mesma tecnologia consegue fazer com que identifiquemos o comportamento do vírus, o RNA, a forma de disseminação, quais medidas preventivas tomar, desenvolver vacinas e medicamentos em uma velocidade muito maior do que tínhamos antes. Essa mesma tecnologia que promove a integração, nos dá condições de combater o vírus. À medida que ela nos integra, nos dá uma vida melhor e nos torna mais global, ao mesmo tempo ela permite esse tipo de situação que nós estamos vivendo”, complementa Paranaguá.
O filósofo Marshall McLuhan afirmou que o avanço tecnológico tende a encurtar distâncias, recriando no planeta a situação social que ocorre em uma aldeia e nomeou de Aldeia Global. O autor afirma ainda que a tecnologia aplicada nos meios de comunicação, por exemplo, faz com que estes últimos sejam extensões do homem, o que corrobora com a ideia apresentada por Ney Paranaguá de que a tecnologia dá poder ao homem.
“A nossa biologia e a biologia do vírus tem sido a mesma. No passado, as biologias dos vírus ao encontrarem a biologia humana, eram mais arrasadoras. Hoje a biologia do homem se fortaleceu porque ao lado dela está a tecnologia. Isso faz com que essa mesma biologia humana se invista de novos poderes que fazem com que as disputas históricas contra os vírus sejam mais favoráveis a nós. Os vírus não conseguiram desenvolver tecnologia, mas nós sim e por esse motivo, conseguimos fazer mais frente a ele que fizemos no passado”, ratifica Ney.
Um exemplo disso, é que nesse momento de avanço da pandemia COVID-19, os segmentos de inteligência artificial e ciência de dados possibilitam reunir informações de modo otimizado. Há, por exemplo, empresas que operam sistemas de I.A que reúne informações de notícias, comunicados de fontes oficiais, dados globais de tráfego aéreo e dados demográficos de vários países, que com apoio de especialistas em epidemiologia, conseguem fazer com que a tecnologia antecipe quando um país ou região pode ser afetado pelo surto de COVID-19, e emite alertas para instituições governamentais e organismos oficiais de saúde. Um outro exemplo é o uso de drones, tanto para o transporte de amostras médicas e monitoramento da quarentena de pessoas.
Paranaguá finaliza ressaltando como a tecnologia fortaleceu a biologia do homo sapiens de modo a se tornar um superpoder. “Em essência, a biologia é a mesma, mas somos mais poderosos porque a tecnologia nos oferece meios para travar a mesma batalha que travamos há milhares de anos contra os vírus. A diferença é que conseguimos desenvolver tecnologia que aumenta nossa capacidade. Aumenta nosso poder”.