O mercado de seguros de saúde nos Estados Unidos vem passando por um limbo legislativo. Desde que a administração Trump iniciou esforços para substituir o Affordable Care Act (ACA), muitas empresas que cresceram na esteira do Obamacare se viram com futuro incerto. A Oscar Health Insurance, startup de seguros de saúde, teria tudo para ser uma delas.
No entanto, a companhia espera obter uma receita de quase US$ 1 bilhão e alcançar pelo menos 250 mil segurados em 2018, quando completará apenas seu sexto ano de operação. Em dezembro de 2017, ela já havia registrado um aumento de 150% nas inscrições em comparação com o mesmo período do ano anterior.
Se você acha que a startup está nadando contra a corrente, ou seja, crescendo quando se esperava um encolhimento do negócio, acertou. Mas a Oscar Health traz lições sobre disrupção no modelo de atenção, investimento em tecnologia e medicina preventiva que vão além dos índices financeiros.
Vamos descobrir quais são esses ensinamentos e por que a combinação de sucesso entre planos e promoção da saúde deve ser priorizada — seriamente — pelas operadoras.
Tecnologia é o único caminho para promoção à saúde
A Oscar foi a primeira companhia de seguros norte-americana a fornecer rastreadores de condicionamento físico aos beneficiários e a estabelecer recompensas financeiras para aqueles que mudassem seus hábitos, por exemplo, cumprindo uma cota de passos por dia.
A empresa posiciona-se como uma alternativa focada no beneficiário e baseada em tecnologia. Para cumprir essa promessa, atua em diversas frentes. Por exemplo: oferece, aos usuários, ferramentas gratuitas que os conectam diretamente com médicos. Paralelamente, disponibilizam à rede credenciada um dashboard amplo e detalhado.
O painel clínico virtual exibe as várias etapas da jornada do beneficiário, com dados sobre consultas, resultados laboratoriais, prescrições, internações e outras condições, como alergias. A interface é integrável com sistemas hospitalares e soluções de telemedicina. Assim, os médicos têm acesso a anotações de consultas e de alta que não poderiam ser visualizadas automaticamente em sistemas isolados.
A ideia defendida por seus fundadores é a de conectar o histórico do usuário, o sistema de saúde e a ciência de dados para obter insights aplicáveis em uma lógica de prevenção.
É claro que, sendo a Oscar uma seguradora de saúde, o dashboard incorpora também registros de sinistros. Mas com um passo adiante: os dados são colocados dentro de um contexto munido por diversos feeds e o sistema gera alertas sobre anormalidades e comportamentos que indicam condição grave e/ou evitável. Dados que, tratados separadamente, não diriam muita coisa.
Essa forma de atuação tem sido validada por grandes investidores e parceiros como uma habilidade necessária para superar os altos e baixos do setor, que nos EUA também está sujeito a regulamentações rigorosas, como a manutenção de grandes reservas de capital.
Hora de levar a expressão “plano de saúde” mais ao pé da letra
Investimos na explicação do caso Oscar Health para poder fazer uma pergunta. Ao estimular um beneficiário a caminhar mais, alimentar-se bem e monitorar sinais de enfermidades como diabetes e hipertensão, você pretende incentivar a prevenção de patologias? Se sim, você está na armadilha da medicina preventiva.
Esse argumento de prevenção reforça uma visão comum: a de operar planos focados em doenças. O discurso para conquistar novos usuários é pródigo em serviços assistências, terapias e diagnósticos. E fundamentado na ideia de validar a eficiência do modelo pela oferta de recursos terapêuticos — uma mentalidade alimentada pelas grandes corporações farmacêuticas e de equipamentos médicos.
Esse padrão está cada vez menos disfarçado. No final do ano passado, a rede de farmácias norte-americana CVS HealthCorp adquiriu a companhia de planos de saúde Aetna por US$ 69 bilhões. O negócio representou a fusão de uma das maiores administradoras de benefícios farmacêuticos e farmácias dos EUA com um dos planos de saúde mais antigos do país.
“Medicina preventiva é prioridade”: Fake.
Apesar de se basear na grande oferta de terapias, o sistema suplementar brasileiro não é acessível, uma vez que 70% dos brasileiros não têm, hoje, um plano de saúde privado. E mesmo para os que acessam, o modelo não é abrangente, porque a pressão de mecanismos de regulação e remuneração criam impeditivos. Consequentemente, não corresponde às expectativas, posicionando o setor no topo dos rankings de reclamações de consumidores e na mira de ações judiciais.
No cenário ampliado, os médicos também ficam insatisfeitos, os hospitais têm queixas e os planos estão em declínio, tentando apenas sobreviver. Mas alguém está ganhando com isso. E não é a promoção à saúde das pessoas.
Dentro desse arranjo, a medicina preventiva é limitada ao básico. A partir de filtros pouco detalhados da carteira, detectam-se grupos mais sens…