Sáude
Por: Pedro de Alcântara 20/12/2024 6 minutos de leitura

Superdiagnóstico na saúde: saiba como o excesso de exames pode ser um problema

Superdiagnóstico na saúde: saiba como o excesso de exames pode ser um problema

Você já ouviu falar sobre superdiagnóstico na saúde? Essa prática está relacionada ao excesso de pedidos de exames complementares a fim de chegar a um diagnóstico. Existem alguns casos clínicos que, sem dúvidas, são mais complexos ou raros, necessitando de um maior número de testes para conclusões.

No entanto, na maioria deles não é necessário pedir tantos exames. Essa prática pode inclusive ser danosa para o paciente, visto que alguns exames, como a radiografia, expõem o paciente a radiação, que é cumulativa. Além disso, o superdiagnóstico é um problema para o sistema público e também para o privado, devido aos recursos que são limitados.

Neste artigo conversaremos sobre o superdiagnóstico na saúde, como identificá-lo em planos de autogestão e por que esse pode ser um problema, tanto para o paciente quanto para as operadoras e o sistema público.

Como identificar o superdiagnóstico na saúde?

Como falado, o excesso de exames, muitas vezes desnecessários, caracteriza o superdiagnóstico. Ou seja, essa prática acontece quando o profissional procura excessivamente por um problema, o que pode gerar vários outros inconvenientes. É importante ter em mente que o superdiagnóstico pode acontecer devido a alguns fatores.

Existem algumas forças do mercado da área de saúde, por exemplo, que pedem que o médico aumente a quantidade de exames, como a pressão dos fabricantes de equipamentos, prestadores, hospitais e clínicas. Afinal, quanto mais exames feitos, mais rendimento é gerado.

Outra causa provável é o tempo limitado para o atendimento médico, o que é estipulado pelas operadoras de planos de saúde. Com vários pacientes em pouco tempo, é natural que o diagnóstico via exame seja uma opção, visto que não há tempo para anamnese e exame físico minuciosos.

Para identificar e diminuir o excesso de exames, é fundamental ter acesso a números. Para tanto, deve-se analisar os prontuários de forma sistemática, encontrando em que pontos há excesso de exames pedidos e quais são as alternativas para diminuí-los. Os protocolos para determinada doença ou condição são uma ótima opção. Isso se faz necessário para barrar determinados comportamentos e ações que não são necessárias no Brasil.

Nos últimos anos, por exemplo, houve um aumento exponencial no número de exames de vitamina D, substância que é ativada quando em contato com o sol. Isso porque os médicos estão se baseando em um artigo, feito em outro país, que afirma ser necessário dosar a vitamina D rotineiramente.

Por exemplo, o Piauí é um local onde não precisa ser solicitado esse exame rotineiro de vitamina D. Devido às condições climáticas e alta incidência de raios solares, as pessoas já costumam ter a quantidade de vitamina D no organismo necessária.

Por que o superdiagnóstico na saúde é um problema?

Os recursos sem dúvidas são escassos. No sistema público, por exemplo, espera-se meses para realizar um exame simples, como um ultrassom, e anos para exames mais complexos. Isso significa que, se exames desnecessários forem pedidos, pessoas que realmente necessitam desse recurso não poderão contar com ele rapidamente.

No sistema privado, embora o paciente tenha acesso mais rapidamente a exames complementares, também é necessário ter cuidado com os recursos. Isso porque exames significam gastos e esses precisam ser bem utilizados a fim de evitar desperdícios.

Por fim, o problema mais relevante: o perigo à saúde do paciente, visto que alguns exames de imagem podem ser danosos ao ser humano. Exames de imagem, como o raio-X, tomografia computadorizada e cintilografia óssea, por exemplo, são feitos com o uso de material radioativo.

Quando feitos aleatoriamente não há problema. No entanto, se o paciente for submetido a eles com muita frequência há risco, uma vez que o impacto da radiação pode ocasionar alterações no DNA das células, causando o surgimento de tumores.

Além disso, a realização de exames em excesso, pode, em alguns casos, levar ao diagnóstico de uma doença que não se tornaria um problema de saúde no futuro. Assim, é indicado um tratamento que seria dispensável.

Como evitar o superdiagnóstico?

A tecnologia é uma grande aliada para evitar o superdiagnóstico na saúde. Isso porque a análise dos pedidos de todos os pacientes é um processo longo e complexo, sendo necessário avaliar diversas variáveis. Com essa facilidade é possível, por exemplo, comparar grupos semelhantes (como pessoas com doenças crônicas, por exemplo) e perceber um comportamento anômalo em relação aos pedidos de exames complementares.

Nessa estatística existem média (como se comporta o conjunto), desvio padrão (quem está na média das diferenças de quem não é a média, que enquadra quase todo mundo da população) e outliers (quem está completamente fora, pontos fora da curva). Assim, é possível identificar quais são as exceções nos planos de saúde e observar as causas.

Além disso, é possível ver a média de exames por consulta de todos os médicos do estabelecimento. Profissionais que estão muito fora da média podem ser investigados para descobrir o motivo de tantas solicitações dentro de sua área. Na cardiologia, por exemplo, pode-se analisar a média de ecocardiogramas por consulta.

Afinal, nem todos os pacientes precisam de um ecocardiograma. A tecnologia permite a análise nos mais vários níveis de detalhes que existem, seja por exame, por especialidade, por prestador, por faixa etária da população ou por local onde moram. Com a inteligência artificial, por exemplo, esses dados são procurados de forma automática, visto que todos os comportamentos e médias já estão calibradas, o que facilita o encontro de comportamento anormal.

Diante do exposto, é necessário que os profissionais da área da saúde abordem a questão do desperdício e também do uso racional dos exames, evitando assim o excesso de gastos e danos a população e aos sistemas de assistência à saúde.

E então, entendeu como acontece o superdiagnóstico na saúde e por que é tão importante evitá-lo? Além de prejudicar o paciente, essa prática é danosa para o orçamento dos planos de saúde e é preciso encontrar meios para que ela não aconteça.

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