Administração
Por: Ney Paranaguá 19/12/2024 7 minutos de leitura

Sinistralidade: porque se preocupar

Sinistralidade: porque se preocupar

Boletos bancários, conta de luz, compras do mês, escola das crianças… A todo momento nos deparamos com uma infinidade de despesas do dia a dia que precisam ser controladas na ponta do lápis para que o orçamento não “estoure” no fim do mês.
O mesmo acontece com as empresas, que precisam monitorar de perto seus gastos para que o negócio se torne rentável. Por incrível que pareça, as operadoras de saúde suplementar não conseguem fazer isso — pelo menos no Brasil.
Na contramão do mercado, planos de saúde são obrigados a assumir uma postura impotente quanto à gestão de seus recursos, com altos gastos assistenciais muitas vezes tornando a operação de um convênio em um negócio inviável.
Neste post, vamos abordar o principal sintoma desse comportamento: a sinistralidade. Continue lendo e descubra por que esse é um indicador que precisa ser acompanhado de perto pelas operadoras de saúde!

Afinal, o que é a sinistralidade?

A sinistralidade é a relação entre os custos assistenciais de uma operadora de saúde e sua receita total. Medida em porcentagem, essa variável avalia os gastos do plano em procedimentos realizados por seus beneficiários, como: consultas, exames, terapias seriadas, internações, exames complementares e tratamentos.
Sempre que um procedimento médico é realizado sob a autorização do plano de saúde, esse acionamento constitui um sinistro — cujo valor é calculado em reais. A sinistralidade é calculada dividindo todos os sinistros pela receita total do plano de saúde em um determinado período.
Imagine uma operadora de saúde cujos beneficiários realizam consultas constantes, no valor de 200 reais. Digamos que, ao final do mês, a empresa acumulou 2 mil reais em sinistros (o equivalente a 10 consultas realizadas). Se a receita do plano foi de 5 mil reais nesse mês, sua sinistralidade será de (R$ 2 mil / R$ 5 mil) X 100 = 40%.

Por que as operadoras precisam se preocupar com isso?

Segundo dados da Agência Nacional de Saúde (ANS), o índice de sinistralidade das operadoras brasileiras ultrapassa a margem de 85%. O valor é muito expressivo, se levarmos em conta despesas adicionais assumidas pelas empresas.
Tome, por exemplo, operadoras de grande porte. Além do custo com sinistralidade, essas empresas precisam desembolsar 10% de sua receita com gastos operacionais, como: folha de pagamento, compra de equipamentos, aluguel de imóveis etc. Se somados outros 10% referentes ao pagamento de impostos, os custos de funcionamento do negócio chegam à marca de 105% do faturamento.
No caso de pequenas operadoras de saúde, a situação é ainda mais alarmante. Empresas menores tendem a incorrer em gastos maiores com operações — até 30% da receita. Somados a sinistralidade e os impostos devidos, essas despesas podem representar até 125% do faturamento. Em resumo: quando o assunto são os planos de saúde do Brasil, a maioria dos empreendimentos do setor gasta mais do que recebe.

Da inação à impotência: como as operadoras de saúde chegaram a esse ponto?

Com altos índices de sinistralidade e despesas “saindo pelo ladrão”, as operadoras de saúde enfrentam um quadro agudo de “depressão financeira”, cujos sintomas e tratamento parecem fugir à compreensão. Em meio a esse cenário assustador, existe um diagnóstico para a má gestão orçamentária das operadoras de saúde? A resposta para tal questionamento pode ser interpretada sob duas vertentes.
A primeira diz respeito à falta de conhecimento por parte dos planos de saúde. Eles conhecem sua dor, mas não conseguem discernir o dilema no qual estão envolvidos. Em outras palavras: faltam estratégias concretas e planos de ação que abordem a quantidade excessiva de sinistros gerados por seus beneficiários.
A segunda vertente aborda a falta de ferramentas tecnológicas que possibilitam enfrentar o problema. É preciso resolver eventuais falhas presentes na circulação de informações que fluem com rapidez pelo mercado — especialmente no setor da saúde. Operadoras de saúde tendem a manter o olhar focado no passado, impossibilitando a tomada de medidas emergenciais no presente — com foco no futuro.
Ao fim do dia, as empresas não sabem em que estão gastando, não conseguem discernir seus custos e, muitas vezes, são incapazes de identificar que existem tecnologias que podem oferecer um apoio em tempo real.

A cultura da gestão em saúde suplementar: é preciso uma mudança de paradigma?

Se a conta não bate, como as empresas de saúde se sustentam? É possível transformar a saúde suplementar em um negócio rentável? Essas são de fato questões que tiram o sono de muitos gestores e donos das operadoras.
Nesse caso, é preciso uma mudança de mentalidade — tanto das empresas quanto de seus clientes — quando se trata do fornecimento de saúde suplementar no Brasil.
A sinistralidade é o ponto de partida para que empresas busquem o equilíbrio dos seus negócios. Afinal, um empreendimento desequilibrado não produzirá virtude. Se a situação não for revertida, em determinado instante as operadoras prejudicarão seus beneficiários, funcionários, fornecedores e até mesmo a sociedade — que será afetada diretamente pela redução da oferta de serviços assistenciais.
Com a saúde pública em crise, o Brasil passa por uma dependência cada vez maior dos serviços de saúde suplementar. Nesse contexto, o fechamento de operadoras de grande porte gera impactos gigantes em todo o sistema, sobrecarregando tanto os planos de saúde quanto o próprio SUS com a migração de beneficiários desassistidos.
É preciso modificar o modelo de saúde atual, cujo foco principal é a doença. Nesta linha, a ênfase em iniciativas de promoção à saúde tem se tornado uma tendência mundial, tanto no mercado como um todo quanto em empresas do setor. Colocar a saúde no centro significa oferecer estímulos à população, para que ela se engaje em uma vida mais saudável.

A tecnologia como uma aliada na redução da sinistralidade: existe, enfim, uma alternativa?

É importante frisar que estimular hábitos saudáveis de vida ataca apenas metade do problema. Para que as empresas atuem sobre a sinistralidade de maneira cirúrgica, é preciso haver uma verificação acurada de sinistros em tempo real. A manutenção de um negócio saudável reside na adoção de ferramentas que deem mais instantaneidade não apenas à observação do cenário, mas também à intervenção sobre ele.
Nesse contexto, soluções tecnológicas precisam ser acessíveis a todos os stakeholders do negócio — desde o gestor e o presidente da empresa até o usuário final do serviço de saúde suplementar. Por meio de soluções contextuais inteligentes, um plano de saúde será capaz de reconhecer padrões e parâmetros de sinistros imediatamente, orientando atores envolvidos no processo para que eles se comportem devidamente e equilibrem a oferta de serviços.
A aplicação correta da regulação assistencial, por exemplo, é uma excelente aliada na redução dos índices de sinistralidade, sendo capaz de monitorar e controlar o comportamento dos serviços assistenciais a procedimentos de saúde.
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