Desperdício Financeiro na Saúde: Ainda tem solução?

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André Machado Júnior|
18/06/2024

A relação entre o desperdício financeiro na saúde e o Produto Interno Bruto (PIB) no Brasil é um indicador crítico da eficiência e da sustentabilidade do sistema de saúde. Um estudo da Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP) apontou que cerca de 20% a 30% dos recursos destinados para a saúde são desperdiçados devido a ineficiências.

De acordo com a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), em 2023, a relação entre despesa assistencial e receita chegou a 87% (taxa de sinistralidade). Isso demonstra o quanto precisamos atuar para buscar o equilíbrio financeiro no setor, agregando mais saúde para as pessoas.

Mas o que está relacionado a esse desperdício? Abaixo elenco alguns dos desperdícios evidenciados atualmente.

  1. Eventos Adversos Evitáveis: Estima-se que os eventos adversos evitáveis, gerem um custo significativo ao sistema de saúde. Esses eventos não apenas prolongam a hospitalização dos pacientes, mas também aumentam os custos com tratamentos adicionais, intercorrências geradas durante a internação, reinternação pós alta por ausência de alta segura, dentre outros.
  2.  Doenças Crônicas: As doenças crônicas, como diabetes, hipertensão e doenças cardiovasculares, representam uma grande parcela dos gastos em saúde. No Brasil é apontado pelo IBGE que 45% da população tem, pelo menos, uma doença crônica não transmissível. O principal problema relacionado a doença crônica é a ausência de cuidado necessária para a condição específica e saúde que foi identificada, como diabetes e hipertensão, o que pode gerar agravos e com isso ausência de qualidade de vida e alto custo com saúde. Muitos desses custos poderiam ser reduzidos com prevenção e gerenciamento adequado dessas condições. A falta de um acompanhamento contínuo e eficaz leva a complicações que requerem tratamentos mais caros e prolongados. As DCNTs, como diabetes, hipertensão, doenças cardiovasculares e respiratórias crônicas, são responsáveis por mais da metade dos óbitos no Brasil, somando mais de 730 mil mortes em 2019 [conforme divulgado pelo Ministério da Saúde]. A gestão inadequada e o tratamento ineficaz dessas doenças resultam em hospitalizações frequentes e prolongadas, além de alto custo com medicamentos e tratamentos. Em 2021, o Vigitel revelou que a prevalência de doenças crônicas está em ascensão, com milhões de brasileiros afetados.
  3. Exames e Procedimentos Desnecessários: A realização de exames e procedimentos sem necessidade médica clara é uma prática comum que contribui para o aumento dos custos. Estudos mostram que a sobreutilização de recursos diagnósticos e terapêuticos adiciona uma carga financeira significativa ao sistema de saúde.

Mas, afinal de contas, o que realmente pode ser feito?

  1. Aprimorar a Gestão Hospitalar: Implementar sistemas de gestão hospitalar mais eficientes para reduzir eventos adversos evitáveis. Isso inclui treinamento contínuo para profissionais de saúde e adoção de protocolos de segurança mais rigorosos.
  2. Promoção da Saúde e Prevenção de Doenças: Investir em programas de prevenção e promoção da saúde, especialmente voltados para o controle de doenças crônicas. A prevenção e o gerenciamento efetivo dessas condições podem reduzir significativamente os custos a longo prazo.
  3. Uso Racional dos Recursos: Desenvolver políticas e práticas que incentivem o uso racional dos recursos de saúde, como exames e procedimentos. A implementação de diretrizes clínicas baseadas em evidências pode ajudar a reduzir a sobreutilização.
  4. Tecnologia e inovação: usar de recursos tecnológicos para gerar melhor eficiência, ampliar acesso, cuidar de forma mais efetiva e unificar dados afim de evitar repetição de exames sem necessidade, por exemplo.
  5. Investir em novos modelos de remuneração, promovendo o uso de modelos baseados em valor em saúde, onde o desfecho clínico e a percepção de valor do paciente devem ser considerados.

O desperdício financeiro na saúde é um desafio significativo que afeta não só a sustentabilidade do sistema de saúde, mas também a economia do país como um todo. Ao abordar as causas desses desperdícios e implementar estratégias eficazes de gerenciamento e prevenção, é possível melhorar a eficiência do sistema de saúde e, consequentemente, liberar recursos para investimentos prioritários. 

Vamos em frente que ainda temos muito por fazer, mas com a certeza de que podemos, e muito, apoiar na sustentabilidade do setor. 

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